SOBRE MEU PAI
No início eu dormia mesmo no sofá da sala enquanto assistíamos a televisão. Papai sempre me acordava e dizia: “vai dormir na cama”; porém acabava me carregando no colo pra me por na cama. Passei a “dormir” de propósito. Era muito bom sentir a proteção dos fortes braços, do cheiro do homem-pai me envolvendo enquanto seguia para o curto caminho entre a sala e o quarto. Era só esse o abraço que eu ganhava, mas era o bastante para que eu soubesse que tinha pai e seguro pudesse me virar na cama e ter um sono tranqüilo. Hoje esses braços estão envelhecidos e fracos. Trêmulos eles quase não se movem e quando se movem carregam expressão de dor. Papai envelheceu... Porém minhas lembranças, como filho, nunca envelhecerão. Ele continua ativamente meu pai. É de quem sempre ouço nos encontros: “Deus o abençoe meu filho”. Perguntei pra ele como ele estava. Levaram alguns segundos pra que a resposta viesse. Ele sempre respondeu: “Melhor do que mereço”. Mas não foi essa a resposta. Sereno ele disse: “Deus é muito bom, nós é que somos maus”. Mais uma vez pude aprender com ele. Sempre soube que Deus é bom, mas ouvindo dele, na circunstância em que está, numa cama, sem poder mais andar, definhando, sofrendo dores e devaneios, me faz aprender, ainda mais, que Deus é tão bom que me deu um bom Pai. Sou agradecido ao Pai pelo pai que tenho e agora tenho orado para que Papai do céu o tome no colo e o ponha na cama e lhe dê um sono tranqüilo... Pr. Jônatas